Enquanto os advogados de Jair Bolsonaro (PL) foram ao Supremo Tribunal Federal (STF) contestar as alegações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado, aliados políticos do ex-presidente usaram a mobilização em torno do julgamento nesta semana para tentar destravar a aprovação da anistia na Câmara. Além de consolidar o apoio da maioria dos deputados, a oposição viu a pressão sobre o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), aumentar com a entrada do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nas negociações.
O governador paulista esteve em Brasília entre terça (2) e quarta-feira (3) para se reunir com diversas lideranças políticas e destravar a aprovação do projeto que pode beneficiar Bolsonaro. A movimentação de Tarcísio contou com o aval do próprio ex-presidente, que também se reuniu com Arthur Lira (PP-AL) nesta semana e pediu que o ex-presidente da Câmara trabalhasse para que a anistia fosse votada na Casa.
Dentro do PL, partido de Jair Bolsonaro, a expectativa é de que a proposta seja colocada em votação em até duas semanas, após a conclusão do julgamento sobre a suposta tentativa de golpe de Estado pelo STF. O último compromisso de Tarcísio na capital federal foi justamente um jantar com Hugo Motta e os presidentes do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), para debater o texto.
“Neste momento, o Tarcísio tem sido muito importante, não só pelo peso da figura política do governador, mas também pela presença do Republicanos, que é o partido do presidente [da Câmara], Hugo Motta. A participação do governador Tarcísio é de suma importância para que a gente consiga pautar o projeto da anistia”, disse Altineu Côrtes (PL-RJ), vice-presidente da Câmara, à Gazeta do Povo.
A pressão sobre Hugo Motta ocorre após partidos do Centrão, como o União Brasil e o PP, declarem apoio formal ao texto da anistia. Na mesma semana, a federação formada pelos dois partidos - a União Progressista - anunciou a saída da base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além desses partidos, do PL, do Novo e do Republicanos, o projeto da anistia tem ainda o apoio de parte das bancadas do PSD e do MDB. A tendência é de que o assunto ganhe força na próxima reunião de líderes da Câmara, prevista para terça-feira (9). Após a articulação de Tarcísio, líderes da oposição indicaram que o apoio cresceu entre os deputados e, com isso, já teriam maioria ampla, fator reconhecido como fundamental para a aprovação da matéria.
“A anistia precisa ser pautada. Entendemos que já está construída com os demais partidos, temos votos de plenário e não há motivo para não pautar, até para mostrar que a sociedade brasileira está querendo virar a página”, disse Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara.
No último encontro com os líderes, o presidente da Câmara disse que o tema da anistia "precisaria ser enfrentado em algum momento", indicando que pode aceitar pautá-lo em breve.
Apesar disso, nesta quinta (4), Motta disse que ainda não há decisão sobre levar ao Plenário o projeto de anistia. Segundo ele, o tema segue em discussão com as lideranças partidárias, tanto favoráveis quanto contrárias à proposta. “Estamos muito tranquilos em relação a essa pauta. Estamos sempre ouvindo os líderes que têm interesse e os que são contrários”, declarou.
A movimentação pela anistia foi confirmada inclusive entre os aliados do governo Lula. O líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara, Lindbergh Farias, afirmou que "cresceu um movimento" de colocar em discussão "essa questão da anistia" depois do julgamento do STF. "A gente não quer que paute esta semana e não quer que paute depois", afirmou. Para a esquerda, trata-se de uma "interferência no STF".
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