O recente caso do caseiro atacado por uma onça-pintada no Mato Grosso do Sul reacendeu o interesse e a curiosidade sobre este imponente felino que, embora raro atualmente, já habitou em grande número as matas do oeste paranaense, incluindo regiões próximas a Palotina, Terra Roxa, Toledo e Cascavel.
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Um predador fascinante
A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas e o terceiro maior do mundo, ficando atrás apenas do tigre e do leão. Com um corpo musculoso que pode chegar a 1,80 metro de comprimento e pesar até 135 kg (equivalente a duas pessoas adultas), este predador impressiona não apenas pelo tamanho, mas por suas habilidades de caça e adaptação.
"A mordida da onça-pintada é uma das mais poderosas do reino animal, capaz de perfurar até mesmo a carapaça de tartarugas e crânios de jacarés", explica o biólogo Paulo Rocha, especialista em felinos silvestres. "Sua força é resultado de uma evolução que permitiu a este animal se tornar o predador de topo em diversos ecossistemas brasileiros."
Relembre: Onça surpreende visitantes no Show Rural em Cascavel
Em fevereiro de 2025, um episódio curioso reforçou a presença eventual desses felinos na região oeste. Durante a realização do Show Rural, em Cascavel, uma onça-pintada foi avistada próxima ao parque de exposições. O animal, aparentemente desorientado, transitou por áreas próximas ao evento, gerando alerta entre organizadores e visitantes.
Equipes ambientais foram acionadas para monitorar a situação. Felizmente, a onça se afastou sem incidentes, retornando à mata. O episódio chamou a atenção para a necessidade de preservar corredores ecológicos que permitam o trânsito seguro da fauna, especialmente em regiões onde o avanço urbano e agrícola é intenso.
Presença histórica no oeste do Paraná
Antes da expansão agrícola que transformou o oeste paranaense em um dos maiores celeiros agrícolas do país, a região era coberta por densas florestas que abrigam uma rica fauna, incluindo onças-pintadas. Relatos de antigos moradores de Palotina e Toledo confirmam a presença destes felinos até meados da década de 1960.
"Meu avô contava que quando chegou a Palotina, na década de 1950, ainda era possível ouvir o rugido das onças durante a noite", relata João Carlos Mendes, 67 anos, morador de Palotina. "Com o desmatamento para a agricultura, esses animais foram desaparecendo rapidamente."
Segundo dados do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), a onça-pintada é considerada criticamente ameaçada de extinção no estado, com populações remanescentes concentradas principalmente no Parque Nacional do Iguaçu e em algumas áreas de mata atlântica na região leste.
Diversas aparições foram registradas nos últimos anos, principalmente nas regiões do Parque Nacional do Iguaçu. Inclusive, profissionais realizam constantes monitoramento e estudos.
Reaparecimento no oeste paranaense
Em 2017, uma notícia surpreendente animou ambientalistas: uma onça-pintada foi registrada no oeste do Paraná, fora dos limites do Parque Nacional do Iguaçu. O registro, feito por pesquisadores, foi atribuído aos esforços de conscientização ambiental e recuperação de áreas degradadas.
"Este reaparecimento é um sinal positivo de que, com medidas adequadas de conservação, é possível recuperar parte da biodiversidade perdida", afirma a bióloga Mariana Costa, que atua em projetos de conservação no Paraná. "Embora seja improvável que as onças voltem a habitar regiões como Palotina, onde a paisagem foi completamente transformada pela agricultura, é importante manter corredores ecológicos que permitam o deslocamento desses animais entre áreas preservadas."
Câmeras de segurança flagraram a onça-parda circulando na região do Lago Municipal de Cascavel na noite de julho de 2018. Veja abaixo:
Curiosidades que você provavelmente não sabia
- Rosetas únicas: As manchas da onça-pintada, chamadas rosetas, formam padrões únicos em cada animal, como uma "impressão digital", permitindo a identificação individual;
- Nadadora excelente: Diferente de muitos felinos que evitam a água, a onça-pintada é uma excelente nadadora e frequentemente caça em rios e lagos;
- Técnica de caça: A onça-pintada tem uma técnica de caça peculiar, perfurando o crânio de suas presas com suas poderosas presas, algo raro entre os felinos;
- Onças-pretas: As onças-pintadas melânicas, conhecidas popularmente como "onças-pretas", não são uma espécie diferente, mas sim onças-pintadas com uma condição genética que causa excesso de pigmentação;
- Longevidade: Na natureza, uma onça-pintada pode viver até 15 anos, enquanto em cativeiro pode chegar aos 20 anos de idade.
Ataques a humanos são raros
Apesar do recente caso no Mato Grosso do Sul, especialistas ressaltam que ataques de onças-pintadas a seres humanos são extremamente raros. "A onça-pintada não vê o ser humano como presa natural", explica o biólogo Paulo Rocha. "A maioria dos poucos casos registrados envolve animais feridos, doentes ou em situações onde se sentiram ameaçados."
De acordo com estatísticas, a chance de ser atacado por uma onça-pintada é muito menor do que sofrer acidentes com animais domésticos ou mesmo picadas de abelhas.
Conservação e futuro
O Estado do Paraná tem trabalhado em um plano para estudar e proteger o território das onças. Iniciativas incluem o monitoramento de populações remanescentes, criação de corredores ecológicos e programas de educação ambiental.
"É importante que as novas gerações de Palotina, Toledo e região conheçam a história natural de sua terra e entendam a importância da conservação", defende a professora de biologia Cláudia Ferreira, da rede municipal de ensino de Palotina. "Mesmo que as onças não estejam mais presentes em nossa região, elas fazem parte da nossa identidade natural e cultural."
Para os moradores do oeste paranaense, conhecer mais sobre este magnífico predador que já habitou suas terras é uma forma de reconectar-se com a história natural da região e refletir sobre a importância da conservação ambiental para as futuras gerações.

Você sabia?
O Dia Internacional da Onça-Pintada é comemorado em 29 de novembro, data escolhida para aumentar a conscientização sobre a conservação deste felino ameaçado de extinção.
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